29 abril 2008

Alimentos X Energia

Por Luis Nassaf

Um bom levantamento da folha sobre o conflito “Alimentos x Energia”, com entrevistas com especialistas internacionais e nacionais. Clique aqui

Chamo a atenção para alguns pontos da entrevista:

1. Ele acredita na maior eficiência da agroenergia brasileira, que ele chama de segunda geração.

2. Ora, a vitória da agricultura brasileira é a vitória da agricultura tropical. Fica óbvio que para quem pensa o mundo sem viés geopolítico (que é como Parmentier se apresenta), a saída natural seria estimular essa agricultura tropical, que ajudaria a aplacar a fome do mundo e a tirar as regiões da miséria.

3. Em vez disso, ele passa a defender o fechamento agrícola dos países, voltando aos tempos do pós-guerra. Como assim? Seu argumento é que o Brasil é eficiente mas não conseguiu resolver a fome do seu povo. Ora, o problema nosso é de renda, não de produção.

4. Ao se colocar contra os “comerciantes” da OMC, no fundo ele se coloca a favor do fechamento dos mercados, da volta da auto-suficiência alimentar, em um momento em que a agricultura tropical pode dar o salto.

A química na agricultura

O esgotamento dos recursos naturais faz com que a revolução agrícola dos anos 1960, que usa muita terra, água e energia, não possa ser levada adiante num período de escassez. A química já deu à agricultura tudo o que podia no século 20, com os fertilizantes, os fungicidas, os inseticidas e os herbicidas. Hoje ela custa muito caro em termos de energia e acabou poluindo o solo e as águas. Em matéria agrícola, o século da química está chegando ao fim e é preciso deslanchar o da biologia.

O aumento de consumo

A elevação acelerada do nível de vida em países asiáticos industrializados provocou um enriquecimento dos hábitos alimentares, com a passagem para uma alimentação à base de produtos animais -carne na China e derivados do leite na Índia. (...) .

Ele afeta a agricultura duplamente: por um lado porque a revolução tecnológica precedente era altamente consumidora de energia. Em segundo, porque se passou a exigir da agricultura que ela preencha os pratos e os tanques dos automóveis.

O FMI e a cultura de alimentos

Destruímos sistematicamente todos os programas de apoio à agricultura produtora de alimentos em todo o mundo. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional chegaram a impor esse desengajamento como condição para a concessão de sua ajuda aos países endividados, incentivando-os apenas a produzir culturas industriais que lhes permitiriam obter nos mercados internacionais divisas para saldarem suas dívidas.

O tamanho da crise

O Banco Mundial admitiu que se engana há 20 anos e que precisa fazer uma revisão completa de suas políticas para, a partir de agora, privilegiar o desenvolvimento da pequena agricultura alimentar. Isso pode produzir resultados, mas apenas dentro de vários anos -pelo menos entre cinco e dez.

Os biocombustíveis

Para mim, até hoje o único impacto real e comprovado é o dos biocombustíveis norte-americanos à base de milho, que desde o início de 2007 provocaram um verdadeiro choque no México, quando o preço da tortilha teve um aumento de 50%.

Mas, se continuarmos com essa política insensata de queimar cereais ou oleaginosos em nossos motores, esse erro inicial dos agrocombustíveis de primeira geração vai de fato converter-se em crime.

O álcool brasileiro

Existe uma diferença essencial: no Brasil vocês já estão de certo modo nos biocombustíveis de segunda geração, ou seja, feitos a partir da planta inteira, a biomassa -logo, não a partir do grão. Me parece que vocês estão indicando o caminho a seguir, e, é claro, sua produtividade é bem melhor que a nossa. Em contrapartida, observo que o Brasil, grande país agrícola, fortemente exportador, não consegue alimentar corretamente sua própria população.

O acordo de Doha

O fato de a responsabilidade pela agricultura e a alimentação mundial ter sido tirada da FAO (Organização da ONU para Alimentação e Agricultura) para ser confiada a uma assembléia de comerciantes, a OMC, é um erro histórico. Esta crise nos permite ver muito bem que os comerciantes são totalmente incapazes de resolver o problema da fome no mundo. Acreditar que comerciantes vão levar a povoados no fim do mundo produtos agrícolas que pesam muito, que apodrecem facilmente, para dá-los a pessoas que não têm dinheiro, é uma fraude intelectual.

(...) É preciso reavaliar por completo a organização da agricultura mundial. Não há nada mais urgente que fechar as fronteiras, e organizar, nos países que têm fome, a mesma política que deu certo nos grandes países povoados que conseguiram se alimentar, como Estados Unidos, Europa e China: fechar as fronteiras para proteger sua agricultura e dar apoio maciço a seu desenvolvimento. Mas isso não deve preocupar o Brasil: ele ainda terá por muito tempo compradores para seus produtos, pois vamos viver um período prolongado de penúria.

Por Cida Medeiros

Para colaborar com a reflexão fundamental, o site Ipsnews traz inúmeras iniciativas pelo mundo para olhar a questão do alimento (agricultura) como interligada com esforços em várias esferas da vida. Traz também a publicação Agricultura & Developement, produzido pelo International Assessment of Agricultural Science and Technology for Development (IAASTD) com estudos na mesma direção. Clique aqui.

2 comentários:

  1. ta fraco, tem condições de melhorar se relatar policamento o assunto!!!

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  2. Ola Francis, tudo bem ?
    Realmente não argumentei nada sobre o assunto, apenas copiei o texto do Nassif.

    Ultima mente não tenho tempo para postar coisas legais... tenho corrido muito... mas mesmo assim vou dar um breve pitaco sobre o assunto...

    Tenho vastas opiniões sobre o tema, que vão desde política interna até o fiasco de Doha...

    Acredito que a crise de Alimentos tem muita especulação e sacanagem (Temos estoques lacrados de feijão, a grande oferta faz ficar super valorizado, não compensa vender tudo), em contra-partida existe a tbm falta de produção, acarretando sérios problemas para o estado, inclusive a Inflação. (O agricultor não quer planta mais o arroz do dia-dia, cana-de-açúcar da mais lucro, a lei da oferta de da procura)
    Sobre Energia, o Brasil é potência Magna para os proximos anos. Temos como platar e vender (bio-energia) para o mundo todo... No primeiro momento das crises diplomáticas, veio o susto gerado pelo Brasil, pois até então exploravamos energias provenientes em sua maioria de combuistives fósseis, hoje ensinamos ao mundo que a energia do século XXI pode ser plantada, basta ter investimento em P&D, clima favorável, e muita terra. Acho que o Brasil é ideal para a prática.
    Mas é interessante para o resto do planeta o Brasil com todo este potencial ???
    Não é muito mais conveniente adotar uma postura de "Romântico a la José de Alencar" e ressaltar a devastação do meio-ambiente, a sub-humanidade do trabalho nas lavouras de cana, e a falta de alimentos ???

    ... tudo é valido na hora de conter os emergentes.

    O Brasil tem área de sobra para Produzir energia, produzir grãos e ainda alimentar o mundo todo com gado de corte e laticínios.
    Mas será que é conveniente ?

    Até mais

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