01 outubro 2008

Novela da Crise Econômica Mundial

A TRISTE HISTÓRIA DO PROFESSOR LITTLE PAUL

(novela da Crise Econômica Mundial)



O professor Little Paul coitadinho, juntou todas as suas economias, cuidadosamente poupadas depois de anos e anos dando aulas em cursinhos pré-vestibular e deu uma pequena entrada e comprou seu primeiro "apartamentinho" no começo dos anos 90 por 30.000 dólares financiando o restante em 30 anos.

No ano de 2006 o apartamento do professor Little Paul, já estava valendo 200.000 dólares.

Então, um belo dia o professor foi até um banco e o gerente lhe perguntou :

E aí professor Little Paul, não está querendo uma grana emprestada?

"Basta dar o seu apartamento em garantia que o Banco empresta "facinho" 120.000 dólares".

O professor Little Paul, ficou entusiasmado com a idéia e fez o empréstimo, quitou a dívida anterior e ficou devendo uma hipoteca de 120.000 dólares para o banco.

Estava tranqüilo continuava no imóvel que valia mais do que a dívida contraída.



Vendo que tinha feito um ótimo negócio ao comprar seu apartamento e com os 120.000 dólares na mão, o professor Little Paul não pensou duas vezes, estava claro que aplicar em imóveis era a melhor coisa do mundo.

Observou que os imóveis não paravam de valorizar, comprou então 1 casa em construção dando como entrada 40.000 dólares. A diferença, 80.000 dólares que o professor Little Paul recebeu do banco, ele se comprometeu com novas dívidas:

Comprou financiando em longo prazo um carro novo pra ele e ainda deu dois carros (também financiados), um para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv de plasma de 50 polegadas, 4 notebooks, 120 cuecas, 50 camisas. Tudo financiado, tudo a crédito.

A esposa do Little Paul, não quis ficar por baixo, sentindo-se rica, "sentou o dedo" no cartão de crédito.

Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo.

A casa que o professor Little Paul tinha dado entrada e estava em construção caiu muito de preço e não tinha mais liquidez. O negócio era refinanciar de novo o próprio apartamento, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro.

Fácil, parecia fácil.

Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo.Devido a maior procura por empréstimo e aos maiores riscos, as taxas que Little Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós-fixadas) e o professor Little Paul percebeu que seu investimento em imóvel se transformara num desastre.

Milhões de norte-americanos haviam tido a mesma idéia que o professor.O mercado ficou lotado de casa para vender como nunca antes.

O jeito foi o professor Little Paul foi ir agüentando as prestações de seu apartamento refinanciado, mais a da casa que ele comprou em construção para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, das camisas,dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito.



Aí a casa que Little Paul comprou para revender ficou pronta e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Little Paul havia programado para vender a casa com grande lucro, o mercado estava literalmente parado por excesso de oferta de imóveis e pouca procura. Quem estava disposto a comprar ou tinha dinheiro para comprar só estva disposto a pagar um preço muito menor achava ao que professor Little Paul havia pago para construir.

Começam a perceber que o professor Little Paul se danou?



Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e da casa que ele havia comprado como investimento.Atrasou o cartão de crédito, "deu balão" nas lojas.

Os bancos, lojas, financeiras, empresas de cartões de crédito, concessionárias de veículos, ficaram sem receber de milhões de "especuladores amadores" iguais ao professor Little Paul.

Little Paul optou então pela sobrevivência da família e tentou então renegociar com os bancos que não quiseram acordo.

A única solução então, foi o professor Little Paul entregar aos bancos a casa que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido.

Little Paul quebrou. Ele e sua família pararam de consumir.



Em todos os estados norte-americanos milhões de "Little Pauls" deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis.

Os bancos haviam transformado os empréstimos destes milhões de "Little Pauls" em títulos negociáveis. Esses títulos eram negociados com valor de face (valor da dívida real). Com a inadimplência dos "Little Pauls" esses títulos começaram a valer pó.(passaram a sofrer forte deságio sobre o valor de face, transformando-se em "moedas podres").



Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos norte-americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço irreal de mercado para esses imóveis, pois o mercado até então havia estado super aquecido e o preço estava artificialmente muito elevado pela demanda e pela especulação.



Agora o preço do imóvel despencou, aproximando-se mais da realidade.

Por exemplo, um empréstimo tinha sido feito tomando por base um imóvel avaliado em 500.000 dólares.Mas agora, com a queda da demanda, este mesmo imóvel passou a valer 300.000 dólares e mesmo assim passou a não mais encontrar compradores.



Os preços dos imóveis tinham crescido tanto que haviam formado uma "bolha especulativa imobiliária". Agora o ciclo do "compra – hipoteca – vende – compra – hipoteca" não conseguiu mais se sustentar.



É a mesma coisa que acontece com os "esquemas de pirâmide" que só dura enquanto existir demanda, quando chega em um ponto da expansão, onde não existem mais compradores a quebradeira é geral, pois é pura especulação.



A inadimplência dos milhões de "Little Pauls" atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia sempre acaba. Agora,em setembro de 2008, acabou.



Pois sem receber de seus mutuários os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os "Little Pauls" pararam de consumir porque não tinham mais crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado.

O medo de perder o emprego, de fazer novas dívidas, fez a economia travar.

Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir.



O FED percebendo a gravidade da situação, passou a reduzir fortemente as taxas de juros ( apenas 2% ao ano) e as taxas de empréstimo interbancários, como forma de tentar manter o consumo em alta.O FED também começou a injetar bilhões de dólares no mercado, buscando aumentar a liquidez.

O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago. A esperança é que com mais dinheiro no bolso as pessoas mantenham o consumo em alta. O consumo no comércio, representa encomenda nas indústrias e em todas as demais atividades, significando manutenção dos salários e principalmente dos empregos.

Mas as ações do FED e do governo Bush, foram tímidas demais ou chegaram tarde demais frente ao tamanho do "tsunami imobiliário" que se aproximava.



Até que na terceira semana de setembro/08 o pior pesadelo para uma economia de mercado aconteceu: CRISE NO SISTEMA BANCÁRIO.

Ante uma onda geral de boatos, os correntistas foram correndo sacar suas economias nos bancos, o pânico tomou conta do mercado.

O que você faria se alguém dissesse: "tal banco vai quebrar e vamos perder nosso dinheiro..."

Quando um boato destes se espalha, fatalmente ocorre uma corrida por saques bancários.E aí até quem está com sólida posição balança, verga.Mas quem já não estava muito bem quebra rapidinho.



Um dos grandes bancos dos Estados Unidos o Bear Stearns, amanheceu insolvente, sem saldo para cobrir os saques dos seus correntistas no dia 15/setembro, segunda-feira.Para que não se ampliasse o pânico no mercado o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear Stearns apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear Stearns foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares.

Investidores que tinham em setembro de 2007 US$ 1 milhão em ações do banco Bear Stearns, agora tem apenas 12.500 dólares em setembro de 2008! Tem investidor falando sozinho, dando bom dia para cavalo e chamando urubu de calopsita.



A partir daí multiplicaram-se os boatos sobre quebra de bancos. A bola da vez foi o Banco Lehman Brothers, um dos maiores e mais tradicionais bancos de investimentos do país, cujas origens eram do século XIX. Pois bem o Lehman Brother faliu, puxando uma fila de falências de bancos, financeiras e seguradoras em todo mundo.



Você que está lendo esta historinha do professor Little Paul, já fez acampamento?

Quem já foi escoteiro ou já fez algum tipo de acampamento sabe que tem que fazer para abafar uma fogueira.

Como é que se abafa? Joga um cobertor em cima e apaga. Tira o oxigênio, acabou o fogo.

Mas se você puser um cobertor menor que a fogueira, acaba alimentando o fogo.

Os bancos dos EUA, antes de perderem o fôlego, já haviam posto US$ 1,3 trilhão nos últimos quatro meses( entre Junho e Setembro de 2008).E agora o Bush quer colocar outros US$ 700 bilhões. Tem muito "escoteiro" do mercado financeiro e das bolsas de valores achando que o cobertor ainda está muito curto para o tamanho da fogueira especulativa atual.



Dá para entender então o porque da oposição ao "pacotaço" que George Bush de 700 bilhões de dólares em ajuda ao sistema bancário.Com medo do "cobertor ser curto", da "fogueira especulativa" não se apagar e da reação dos seus eleitores, os próprios deputados republicanos, partidários de Bush, rejeitaram o pacote.

O neoliberalismo entra em crise.O eleitor americano percebeu que "O Estado somos Nós", apenas na hora de pagar a conta.

É lógico que em uma outra tentativa, quando será feita alguma maquiagem, dando aparência que os "little pauls" também serão beneficiados de alguma maneira, o pacote vai passar.

Mas não tenham dúvida, o estrago está feito e os EUA, vão dividir a conta com todo mundo.Todos, americanos ou não, "vão ter que pagar o pato".



A crise se alastrou, as bolsas despencaram e os investidores em ações, com medo que a redução do consumo que pode afetar os milhões de "little Pauls" em todo os EUA, passaram a vender suas ações, e passaram a aplicar seus recursos em títulos do tesouro norte-americano e no dólar. Apesar de tudo, na dúvida, o velho dólar, ainda é mais confiável, para se ter a mão em tempos de crise, principalmente porque representa liquidez imediata.

Em tempo de crise, quem tiver "a verdinha" bem "viva" na mão, vai comprar muita coisa na "bacia das almas".

No Brasil os bancos também vão ter muitos problemas começando com o financiamento de carros.

Nos últimos três anos, temos uma "bolha de crédito automobilístico".

Estamos vendendo carro sem nenhum pagamento à vista em 72 ou 84 meses.É a versão tupiniquim à bolha imobiliária americana.

O país já tem um carro para menos de quatro moradores. Na nossa cidade Campinas ou Ribeirão Preto e em outras cidades ricas do interior do Estado de São Paulo a proporção é ainda maior. Menos gente por carro.

Como levaram o crescimento da economia brasileira? Pelo endividamento das famílias!

Compre carro! Compre TV! Compre Geladeira! Compre Móveis!

E tome carnê! Casas Bahia, Extra, Ponto Frio, Magazine Luiza, Financeiras A,B e C.

A economia cresceu não pelo investimento das empresas, não pelo investimento público, mas pelo elevado endividamento do crédito pessoal.

Se a crise bater no Brasil, os endividados vão fazer o quê? Parar de pagar.

Os bancos vão fazer o quê?

Executar e ficar dono dos carros?

Vão fazer o que com os carros?

A crise americana está se propagando pelo mundo inteiro. E ninguém sabe o tamanho dela. A única coisa que se sabe é o seguinte: quanto mais ela avança, maior ela fica.



Então esta nossa novelinha que começou com o primeiro "apartamentinho" do professor Little Paul, acabou afetando hoje o mundo inteiro.



O ruim não é que a coisa está ruim.

O ruim é que a coisa pode piorar.



Todos os direitos reservados ao PROFESSOR PAULINHO FRANCO